quinta-feira, 7 de abril de 2011

Cérbero de Realengo


Os gregos antigos temiam o monstruoso Cérbero, cão mitológico de três cabeças que guardava o Hades, mas em pleno século XXI percebo que a tragédia brasileira supera o enredo de qualquer tragédia grega, pois aqui não enfrentamos um mito, mas um monstro real capaz de destruir com suas presas, num só golpe, três alvos extremamente vitais do nosso Brasil: segurança, ensino e saúde. Um cão raivoso avançou contra nossas crianças, expondo a vulnerabilidade de um lugar que para os pais era até então seguro aos filhos. Enquanto o Cérbero de Realengo feria inocentes também colocava o dedo na ferida de nossa segurança pública, que apesar de ter heróis como o sargento Alves, também tem pontos falhos que não devem ser esquecidos. O segundo golpe, simultâneo, feriu nossa educação, pois um maníaco alegando ser palestrante entrou na casa do saber para ensinar uma triste lição para todos nós: precisamos cuidar melhor de nossas crianças, para que elas tenham um futuro, e de seus professores, para que eles ensinem lições de cidadania ao invés de lições de sobrevivência. Por fim as presas da besta foram fincadas no sistema público de saúde, expondo velhas feridas como a falta de especialistas e de recursos hospitalares, embora sempre nestas tragédias vejamos a força de vontade de abnegados voluntários. O alvo inicial do Cérbero de Realengo não foi segurança, ensino ou saúde, mas adolescentes cheios de vida e esperança, porém no seu golpe covarde ele feriu a todos nós, fazendo sangrar o coração do Brasil. Para que não restem apenas lágrimas daqueles que ficam e sonhos interrompidos dos que injustamente se foram, convido nossas autoridades e cada cidadão a retirar dos palcos brasileiros esta velha tragédia, fazendo assim de nossa nação a protagonista de uma nova história.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

DRIBLANDO AS DIFERENÇAS


Em ano de Copa do Mundo, num país de dilatadas veias futebolísticas como o Brasil, é impossível ficar indiferente a toda agitação que invade o imaginário popular e os mais remotos pontos do planeta futebol.

Será o evento que reúne as potências dos gramados apenas uma grande jogada comercial dos verdadeiros donos da bola: magnatas que mais parecem com os meninos de nossa infância, que escolhiam os times nas peladas disputadas em ruas e campinhos por serem os donos da pelota? Ou será esta paixão nacional somente um potente analgésico para anestesiar massas sofridas, aliviando assim temporariamente sua dolorosa realidade de pobreza e vergonhosa corrupção?

Sei que a Terra não para de girar quando começa a rolar a bola nos gramados. Engana-se quem pensa que nossos problemas do dia-a-dia podem ser driblados por chuteiras coloridas, também não é possível com o uso do cartão vermelho expulsar toda injustiça social que aperta o calo de nossa “pátria de chuteiras”. Mas, mesmo assim, ainda enxergo valores mais reais nestes gramados do que as cifras milionárias que envolvem este popular esporte.

Devemos aplaudir, por exemplo, a atitude de um jogador como o Lúcio, capitão da seleção brasileira e da Inter de Milão, que mesmo após ser desprezado pelo técnico que dirige o time adversário, na grande final ainda encontra fôlego para após vitoriosa partida correr na direção deste desafeto, driblando todo passado e marcando assim, com seu abraço, um gol de placa chamado perdão. Sem dúvida este atleta de Cristo levou para casa o mais importante troféu daquela partida, como ele mesmo disse: “Depois do jogo ele me deu os parabéns, me chamou de amigo e eu disse que ele também era meu amigo. Não guardo mágoas”.

Independente de que país erga a taça ao final deste disputado certame, que a nossa verdadeira torcida seja para que mais exemplos como este sejam vistos não somente nos gramados e nas televisões, mas também em nossas igrejas, família, trabalho e espelho.

Caro amigo, é preferível você ser perna de pau como eu no trato com a bola, do que sermos caras de pau no trato com as pessoas, como muitos cristãos hoje são. Ao invés de criticarmos tanto tudo e todos, deveríamos ser autocríticos e mandarmos nossa estrela, chamada orgulho, para o chuveiro, tirando de uma vez por todas o amor pelo próximo do banco de reservas.

A falta mais desleal que existe não é um carrinho cometido por trás, mas sim um sorriso falso a nossa frente. Sendo assim, siga a orientação de um homem que já balançou muitas redes, chamado Simão Pedro: “Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade, para o amor fraternal, não fingido; amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro” (1 Pe 1.22).

domingo, 18 de abril de 2010

REGRAS E LEIS



A palavra lei vem do verbo latino ligare, o qual significa “aquilo que liga”, ou legere, que significa “aquilo que se lê”. Mas o que é a lei? Tomás de Aquino define lei como "uma determinação da razão em vista do bem comum, promulgada por quem tem o encargo da comunidade". Princípios como a justiça e o respeito ao próximo são bases da sociedade e convivência social, e as mesmas são expressas através de leis que refletem os valores de uma comunidade visando o bem estar de cada indivíduo.

UMA DETERMINAÇÃO – aqui não há nenhum pedido ou um mero conselho, mas sim uma ordem à espera de obediência; DA RAZÃO – originária no bom senso, não arbitrária ou temperada por caprichos pessoais; EM VISTA DO BEM COMUM – a noção da preservação dos direitos e deveres coletivos, passando pelo indivíduo, devem ser o cerne das leis; PROMULGADA – etapa de um processo legislativo que atesta oficialmente a existência desta lei e confere para a mesma necessidade de execução; POR QUEM TEM O ENCARGO DA COMUNIDADE – a autoridade de quem promulga a lei é quem garantirá a inclinação dos demais em obedece-la, definindo isso, podemos melhor compreender os tipos existentes de leis.

Não seria incorreto analisar os conjuntos de leis vigentes e dizer que as leis podem ser assim divididas: lei divina e lei humana. LEI DIVINA – promulgada diretamente por Deus, trata-se de leis eternas que regem toda a criação, os elementos da física, as ciências naturais, a harmonia desde as galáxias em expansão até as menores partículas da matéria, passando também pelo homem; LEI HUMANA – ratificadas pelo homem, em subordinação a Deus ou não, tais leis podem ser ecos da vontade divina formando leis eclesiásticas ou leis civis temporais que desbotam com o tempo, baseadas na moral de sua época, como a áspera lei de talião ou a libidinosa lei da prima nocte.

Temos visto no decorrer deste estudo que cremos num Deus pessoal que deseja estreitar seu relacionamento com sua criação, revelando-se gradativamente através dos milênios da história humana; cremos que o fiel cumprimento das leis divinas aproxima o homem dos desígnios celestiais, ao mesmo tempo em que, é correto também afirmar que a fria observância de regras apenas mecaniza o sagrado; existe um ponto de equilíbrio, onde o amor deve ser nosso legislador, e foi desta forma que Jesus primeiro cumpriu a lei divina e humana, promulgando depois mandamento eterno: “Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. (...) Ame o seu próximo como a si mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas”.

Quando Jesus foi questionado por um jovem, que era praticante das leis sagradas e desejava ser salvo, o bom mestre o incitou a seguir os mandamentos, e vendo seu zelo pessoal o amou, e disse: “Falta-lhe uma coisa, (...) vá, venda tudo o que você possui e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois venha e siga-me”.

Deus é amor e sem amor é impossível termos comunhão com ele, e não existe qualquer lei que possa revogar isto.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

INFORMAÇÃO

Irei gradativamente desativar este blog. Agora posto no meu outro blog: NOS GALHOS SECOS.

Abraços.

Clay Ventura

A Bíblia e o Pensamento Cristão

O pesquisador canadense Hans Selye é autor da célebre frase: "quem não sabe o que procura não entende o que encontra". Infelizmente hoje vemos homens tropeçando nas ruas em barras de ouro pensando que elas não passam de meros tijolos; para distinguir singular tesouro entre entulhos é preciso garimpar na aluvião de nosso próprio pensamento, separando na bateia da razão paradigmas de evidências.

Não basta ter a Bíblia na mente, é preciso ter a mente no estudo da Bíblia: "Ora, os crentes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica, pois receberam a Palavra com grande interesse, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim".

Alguns dizem que a fé é cega, mas pode um cego conduzir outro cego? Não cairão os dois em alguma cova? A fé de muitos tem desmoronado junto com sua própria vida devido à cegueira, a falta de visão de ambos, é fato que o povo perece por falta de entendimento. A sabedoria grita pelas ruas e levanta a voz nas praças. Aqui vemos o desejo do Deus que é pessoal de se revelar ao homem, procurando os “Adões” de hoje como Ele fazia no Éden na viração do dia. A Bíblia possui a revelação de Deus aos homens, é o farol que brilha na escuridão da noite entre rochedos, apontando divino escape à humanidade decaída; a Bíblia é a única fonte primária e autorizada da teologia cristã, regra de fé e prática de um Deus pessoal que revela a si mesmo. “A revelação é a auto-revelação de Deus em seus desígnios redentores: uma manifestação dirigida para pessoas criadas segundo sua própria imagem”.

O correto estudo das Escrituras destrói paradigmas e constrói o verdadeiro conhecimento cristão. A teologia é uma ciência, a mais destacada de todas, e como ciência possui ferramentas de investigação que ajudam a clarificar o pensamento humano concernente ao sagrado; é preciso sistematizar tal estudo para melhor obtenção dos resultados mais nobres.

Embora muito mais complexo do que aqui é descrito, é correto afirmar que todo pensamento teológico nasce da necessidade humana de esclarecer três pontos cruciais em nossa mente:
1- De onde eu vim?
2- Qual o propósito desta vinda?
3- Para onde iremos?

Assim é desenvolvido o pensamento teológico: impulsionado pelo desejo humano de respostas e atraído pelo desejo de auto-revelação do sagrado. O propósito que motiva ambas as partes não é outro senão a construção de um relacionamento entre Criador e criação, uma comunhão perene possível após haver a nossa compreensão e cumprimento fiel dos projetos divinos, sempre lembrando que somente pela Graça somos salvos. Aqui falamos da teologia cristã, principal foco de nosso estudo. O aparente cisma entre o saber científico e o saber teológico para mim não existe, pois até mesmo para responder a primeira pergunta aqui apresentada, “De onde viemos?”, independente de quem tente responde-la, será apresentada sempre uma resposta teológica. Esta interação entre estes dois campos do saber prossegue quando para dar continuidade ao pensamento teológico somos equipados com os métodos científicos. Com tais ferramentas são estudadas as evidências do sagrado através da observação humana, gerando assim hipóteses, que passam pelo crivo do questionamento até consolidarem-se finalmente em conclusões que serão apresentadas no meio acadêmico. É fundamental que outros tenham o mesmo acesso a este conhecimento, por isso o valor de sistematizar a teologia, para universalizar o trânsito das idéias e revelações.

Na prática, tanto empenho de gerações por milênios, de Paulo a Agostinho, de Jacobus Arminius a Jonh Weslley, não foi outro senão recolher em seus limitados vasos às gotas da sagrada revelação, deixando decantar em sua própria mente toda influência humana, a fim de dar de beber em seguida aos sedentos a límpida e cristalina verdade que goteja do céu e é capaz de regar nossos corações.

O que devemos fazer é respeitosamente retirar nossas sandálias dos pés e caminhar neste estudo do sagrado, sem jamais deixar de andar com Deus, pois a letra solitária apenas mata, porém, de mãos dadas com a divina presença do Senhor e sua revelação, torna-se fonte de vida. Uma das mais acentuadas evidências que apontam para o Autor da Bíblia é que diferente de outras leituras, suas letras ganham vida e saltam das páginas, escrevendo novas histórias na vida das pessoas que a lêem, despertando em homens e mulheres um caráter sadio e uma influência santa.

Que tenhamos na alma o sincero desejo de Jonh Wesley: “Quero conhecer uma coisa: o caminho para o céu... O próprio Deus dignou-se a ensinar o caminho... Ele o escreveu em um livro. Oh, dá-me esse livro! A qualquer preço, dá-me o livro de Deus!”

segunda-feira, 22 de junho de 2009

VAMOS MUDAR O "R" DE LUGAR



Aproveitando a nova reforma ortográfica que visa aproximar os países de língua portuguesa, vamos também fazer algo para aproximar as pessoas em nossas igrejas, minha ideia (sem acento a partir de agora) é fazer uma reforma na igreja, mas nada a ver com engenheiros ou pastores-construtores, vamos sim fazer uma reforma na língua dos crentes, trocando o idioma do homem natural pela linguagem do amor (1 Co 13).


Minha humilde sugestão é a mudança do "R" de lugar, precisamos transformar PEDRÃO em PERDÃO, explico: vivemos (ou será que sobrevivemos?) na Era do "Pedrão", aquele conhecido seguidor de Jesus que mesmo após dois anos de caminhada ao lado do Mestre ainda carregava nas mãos uma afiada espada para revidar desafetos, como testemunharam Malco e sua orelha. É preciso com urgência mudar o "R" de lugar e promover assim a Era do PERDÃO, caso contrário faremos como Hamurabi, "olho por olho e dente por dente", reduzindo a irmandade cristã a uma congestionada enfermaria superlotada de cegos e banguelas, seres incapazes de enxergar Cristo ou sorrir em Sua maravilhosa presença.


Chega de mais do mesmo, o velho Código de Hamurabi não promove a justiça de Deus, já passou da hora de seguirmos outra legislação, precisamos viver segundo a nova Lei do Amor (Lucas 6.27).


Veja os benefícios: o perdão traz alívio imediato e liberta a alma da amargura, sem contar que quando perdoamos também somos perdoados, e cá entre nós, todos somos falhos e precisamos receber o perdão proveniente de Deus. Outro fato sobre o perdão é que ele é um dos poucos elementos que quanto mais é dividido mais multiplica-se em nossas vidas.


Perdoar é uma decisão pessoal, algo mais da cabeça cheia da mente de Cristo e menos do enganoso coração do homem, ou seja, precisamos seguir mais os ensinamentos de Jesus e menos as nossas próprias emoções.


Vamos mudar logo o "R" de lugar, assim Deus também mudará nossas vidas, e estaremos aptos para uma nova reforma, não uma reforma ortográfica, mas sim uma reforma espiritual e histórica na igreja sobre a Terra.


A verdade é uma só: nenhum avivamento, por mais esperado que seja, virá enquanto não mudarmos o "R" de lugar.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

JONH WESLEY "VERSUS" EVANGELHO DA PROSPERIDADE

Tomei a liberdade de adicionar este texto do Blog "Púlpito Cristão", por entender que o mesmo reflete de forma competente os distúrbios da pseudo-teologia da prosperidade:

Por Daniel Grubba

Richard J. Foster observou que o efeito evangelical do pregador metodista John Wesley foi grandemente acentuado pela integridade de sua vida. "Há registros de que Wesley teria dito à sua irmã, "dinheiro nunca fica comigo. Eu me queimaria se fizesse isso. Minhas mãos livram-se dele o mais rápido possível, para que ele não se encontre seu caminho dentro do meu coração". Ele dizia a todos que, se ao morrer tivesse mais de dez libras (por volta de 40 reais) consigo, as pessoas teriam o privilégio de chamá-lo de ladrão".

Um dos biógrafos de Wesley, Mateo Lelievre, nos conta como era a relação deste heroi da fé com o dinheiro e o lucro dos livros: Ele poupava dinheiro, mas fazia para o bem dos pobres, e não em proveito próprio. Quando consentiu em aceitar o salário da sociedade de Londres, ele mesmo limitou à modesta soma de 30 libras (750 dólares). É verdade que além disso recebia o lucro de venda de seus livros, que às vezes chegava a ser considerável. Mas, depois de retirar o necessário para suas modestas despesas, distribuía o restante com os pobres[...]Sua maneira de viver era tão singela que, quando lhe perguntavam quanto valia seu aparelho de jantar, julgando que um homem tão notável possuía talheres de grande valor, respondeu: "Tenho duas colheres de prata aqui em Londres, e duas em Bristol. Esses são todos os utensílios de maior valor que possuo atualmente, e não comprarei mais, enquanto me rodearem pessoas que careçam de pão".

Morreu pobre, como prometera a seus amigos, e nada deixou em sua pobreza, senão "uma grande estante cheia de bons livros, uma toga pastoral bastante usada, um nome escarnecido, e... a Igreja Metodista. Sobre a venda de livros e o lucro, Wesley dizia:"Alguns livros alcançaram venda superior as minhas expectativas, e com ela fiquei rico sem querer. mas nunca quis ser rico, nem me empenhei por isso. Como tal fortuna, porém, veio-me inesperadamente, não cumulo riquezas sobre a terra, nem entensouro absolutamente nada para mim. Meu desejo e propósito são distribuir de graça o saldo do fim do ano...minhas próprias mãos executarão a distribuição dos meus bens".

Wesley levou a sério que Paulo disse em II Coríntios 6.3 "não dando nós nenhum motivo de escândalo em coisa alguma, para que o nosso ministério não seja censurado". Infelizmente, existe uma onda de escândalos envolvendo a igreja, intimamente ligados a atos inescrupulosos de ganância e poder. E ainda tem coragem em falar em perseguição? Porque melhor é sofrerdes fazendo o bem, se a vontade de Deus assim o quer, do que fazendo o mal (I Pe 3.17). São perseguidos porque fazem o mal e reclamam?

Aprendam com Wesley a serem integros, e parem de sujar o nome de Jesus.

***Fonte: Soli Deo Gloria